quinta-feira, 24 de junho de 2010

Patriotismo à brasileira

Então, eu estava em um fórum no Orkut sobre o dia dos namorados com alguns se lamentando por não ter namorado(a) enquanto outros brincavam com o tema. Normal, claro. Mas me chamou a atenção o comentário de uma menina dizendo que “melhor estar solteira no dia dos namorados que namorando no carnaval”.

A piadinha, que talvez esconda um certo despeito, remeteu ao carnaval, época em que o povo brasileiro tem os hormônios alterados, momento em que tudo é permitido e que “ninguém é de ninguém”. Em outras palavras, o povo brasileiro se embala na “vibe”.

Agora mesmo, estamos em plena Copa do Mundo e eu fico consternado em ver tanto patriotismo, tanto orgulho de ser brasileiro. Assim como existe uma semana por ano onde o superego dá uma folga (muitas vezes anestesiado por litros de álcool) – aliás, segundo Vinícius, “a gente trabalha o ano inteiro por um momento de sonho, pra fazer a fantasia de rei, pirata ou jardineira, pra tudo se acabar na quarta-feira” – existe também um mês a cada quatro anos onde o sentimento de amor pela pátria exsurge nos corações brasileiros e o país inteiro fica pintado de verde e amarelo.

Faixas, bandeiras nos vidros e capôs dos carros, nas fachadas das casas, bandeirolas, caras-pintadas, perucas e um festival de pessoas vestidas de verde e amarelo (pense em alguém fantasiado de abacaxi que você enxerga a cena).

É lindo ver nosso povo dizendo que é brasileiro com muito orgulho, com muito amor, vestindo-se de bandeira (mesmo com o ridículo de parecer o abacaxi), vibrando, gritando pelo sucesso do país.

Pois bem, se no carnaval tudo se acaba na quarta-feira (e todos voltam para suas vidas com os hormônios arrefecidos), na Copa (que também pode acabar nas quartas), assim que a seleção regressa e cada um dos jogadores volta pra Europa (já que quase todos são “estrangeiros), nossos patrióticos torcedores voltam para suas vidas, com mil reclamações contra o Brasil, orgulhosos de terem antepassados europeus (existe uma frenética busca nacional por uma origem estrangeira).

Mas tudo bem: em 2014 a Copa vai ser no nosso quintal e poderemos mostrar para o mundo tudo como nos orgulhamos de ser brasileiros (durante 01 mês, a cada 04 anos!).

terça-feira, 15 de junho de 2010

Mudança de hábito

Eu estava em São Paulo, hospedado na casa do Paulo, e soubemos que o Henrique também estava por lá. Como havia muito tempo que não nos encontrávamos, os três, o Paulo propôs que o Henrique ficasse por lá o final de semana. Ele concordou, mas com a condição que fôssemos com ele ver o jogo do Corinthians. Eu, flamenguista desde os 7 anos, brinquei dizendo que ele cobrou muito caro pela estadia e que fosse embora. Mas fomos ver o jogo.

Quando chegamos no estádio, eu quis ser engraçadinho e telefonei para o Gabriel, que é corinthiano doente, e disse que EU iria ver o jogo do time DELE. Depois que uma série de lamentações (e com certeza alguns palavrões que foram pensados, mas não ditos), ele me pediu que comprasse uma camisa na porta do estádio. Disse pra ele quais as que tinham na porta, ele escolheu, eu comprei.

Fomos para um boteco, o Henrique, o Paulo e eu.

Quase na hora de irmos para o estádio, o bar foi inundado por uma onda de corinthianos, uniformizados, barulhentos, fanáticos.

Um deles, no meio da turba, me viu com a camisa no ombro e me intimou com um ar de poucos amigos e cobrando postura de torcedor:

“– Oh, meu, não vai vestir essa camisa, não?”

Eu, flamenguista desde os 7 anos, sem nunca ter sido torcedor do “poderoso timão”, tomei a postura que qualquer pessoa sensata faria frente àquela turba corinthiana: levantei, encarei o torcedor e disse à queima-roupa:

“- Agora mesmo!”

Vesti a camisa e fui parar na geral timão, com direito a cantar que ali tinha um bando de loucos. Enfim, o senso de sobrevivência muda algumas de nossas posturas. De toda sorte, o jogo terminou zero-a-zero, assim eu não corri o risco de comemorar nenhum gol contra.