domingo, 22 de março de 2009

"... seja por ingenuidade, seja por hipocrisia..."

Eu ainda me encanto com a capacidade de nosso povo se estarrecer com assuntos que são por todos conhecidos. Apesar de já não ser mais o assunto do momento (esperei passar os 15 minutos para depois falar sobre), a entrevista do senador Jarbas Vasconcelos, dizendo que o PMDB é corrupto, foi apenas a revelação de algo que as pessoas falam abertamente no dia-a-dia.

Em qualquer mesa de boteco, barbearia ou corrida de taxi, quando se fala de política e o assunto chega ao fisiologismo, é unânime que o PMDB é um partido DO poder. Seja lá quem for o poder. O que mais importa é estar junto com quem dá as cartas para poder também distribuí-las. Ministérios, presidências de órgãos da Administração Pública Indireta, cargos de chefia. A grande base sempre formada de parlamentares ajuda a convencer o chefe do Executivo que é sempre bom contar com aliados históricos do poder.

Então eu me pergunto: o que, afinal, houve de novidade na entrevista do senador? Talvez o fato de a notícia vir de dentro do partido? Talvez o fato de ele ter resolvido romper com a cortina de fumaça e jogado na cara de todos o que todos estamos cansados de ver – o tempo todo – nas nossas caras?

Havendo o hábito de se criticar a política e os políticos, a entrevista, no máximo, poderia servir para um brado coletivo de “Tá vendo? Eu sempre disse isso!”.

E quais foram os efeitos práticos da entrevista? Nenhum, é claro. A cúpula do partido, muito espertamente, sabia que a emenda sairia pior que o soneto e não tomou nenhuma postura. Apenas disse que as acusações foram genéricas e que nada havia de ser feito.

O resultado? Ninguém nem comenta mais nada. Passaram os 15 minutos de burburinho e o PMDB continua presidindo as duas Casas e se ocupando de outros tipos de escândalo para administrar. Castelos, Corregedorias, Diretorias e Diretores.

O nosso povo, com a memória sempre curta – seja por ingenuidade seja por hipocrisia – , já está, mais uma vez, prontinho para se chocar com qualquer nova revelação que não passe da mera exposição pública daquilo que o próprio público expõe diariamente.

domingo, 8 de março de 2009

Pecados mais graves.

Alguns temas são, por natureza, polêmicos. No final do mês de fevereiro tive um bate-papo (alguns preferem chamar de palestra) com um grupo de jovens sobre a importância do jovem na política.

Falando sobre os órgãos que compõem o Poder do Estado, fiz uma alegoria, promovendo uma discussão com os jovens sobre o projeto de descriminalizar o aborto. Gerou alguma polêmica e, ao final, um amigo médico, que estava presente, disse que os profissionais da medicina, em regra, são contrários ao aborto.

Como a vida é sempre muito mais complexa do que podemos trabalhar “em tese”, na última semana houve um caso que se tornou assunto por todos os lados: o pai que estuprava a filha e que a engravidou. Dupla monstruosidade. Se nada pôde ser feito para evitar o estupro, ao menos a gravidez foi interrompida, uma vez que a nossa legislação permite que seja feito o aborto em casos de estupro.

Com a sociedade estupefata pela ação do pai (pai?!), a Igreja, por meio de seu bispo local, apressou-se em promover a excomunhão dos integrantes da equipe médica. Quanto ao pai estuprador, a Igreja entende que há pecados mais graves.

Mesmo que os profissionais da medicina sejam contrários ao aborto, como disse o meu amigo, aquela foi uma situação que necessitava de uma intervenção. Não houve, por certo, nenhuma alegria na equipe em ter que realizar aquele procedimento, mas havia de ser feito.

Se a excomunhão foi o preço a ser pago para se fazer a coisa certa, se há justiça Divina, por certo quando chegar a hora do juízo final, quando forem pesados os atos que fizemos na vida, o clérigo de alta patente vai descobrir que houve, neste caso, um ato de humanismo: o da equipe médica.

Quanto aos demais atos (defesa do estuprador e excomunhão da equipe), estes sim, são "pecados mais graves".