domingo, 8 de março de 2009

Pecados mais graves.

Alguns temas são, por natureza, polêmicos. No final do mês de fevereiro tive um bate-papo (alguns preferem chamar de palestra) com um grupo de jovens sobre a importância do jovem na política.

Falando sobre os órgãos que compõem o Poder do Estado, fiz uma alegoria, promovendo uma discussão com os jovens sobre o projeto de descriminalizar o aborto. Gerou alguma polêmica e, ao final, um amigo médico, que estava presente, disse que os profissionais da medicina, em regra, são contrários ao aborto.

Como a vida é sempre muito mais complexa do que podemos trabalhar “em tese”, na última semana houve um caso que se tornou assunto por todos os lados: o pai que estuprava a filha e que a engravidou. Dupla monstruosidade. Se nada pôde ser feito para evitar o estupro, ao menos a gravidez foi interrompida, uma vez que a nossa legislação permite que seja feito o aborto em casos de estupro.

Com a sociedade estupefata pela ação do pai (pai?!), a Igreja, por meio de seu bispo local, apressou-se em promover a excomunhão dos integrantes da equipe médica. Quanto ao pai estuprador, a Igreja entende que há pecados mais graves.

Mesmo que os profissionais da medicina sejam contrários ao aborto, como disse o meu amigo, aquela foi uma situação que necessitava de uma intervenção. Não houve, por certo, nenhuma alegria na equipe em ter que realizar aquele procedimento, mas havia de ser feito.

Se a excomunhão foi o preço a ser pago para se fazer a coisa certa, se há justiça Divina, por certo quando chegar a hora do juízo final, quando forem pesados os atos que fizemos na vida, o clérigo de alta patente vai descobrir que houve, neste caso, um ato de humanismo: o da equipe médica.

Quanto aos demais atos (defesa do estuprador e excomunhão da equipe), estes sim, são "pecados mais graves".

3 Comentários:

Blogger Thalita Araújo disse...

essa história foi um absurdo sem fim! e eu não consigo acreditar que uma instituição que condene um médico nessa situação e não faça o mesmo com um pai-estuprador seja tão forte e tão influente nos conceitos e personalidade de tanta gente nesse país. Eu acredito em Deus, mas já deixei de acreditar nos homens que se passam por representantes dEle aqui na terra.

9 de março de 2009 às 20:16  
Blogger econoespaco disse...

Se o médico excomungado estiver triste e preocupado com a situação, sou voluntário a ser excomungado no lugar dele.

Essa mesma "fúria" do padre poderia ser aplicada no estuprador monstro.

17 de março de 2009 às 11:00  
Blogger Alexandre Veloso disse...

Acho que vai chegar um momento em que a própria Igreja vai repensar seu papel. Excomunhões e campanhas equivocadas (tais como às contrárias à camisinha) já a põe em cheque. Posso estar sendo muito visionário, mas, a Igreja tende a se tornar uma instituição ecumênica e não por intenção de seus "fundadores", mas, dos seus "seguidores". Esse é um prato-cheio para qualquer sociólogo.

20 de março de 2009 às 14:32  

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