segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Vou ser breve

O prenúncio da demora é o aviso da brevidade. Em uma de suas crônicas, Nelson Rodrigues diz que antes de entrar no assunto irá dizer “duas palavras” sobre um outro tema. Alerta o cronista que “duas palavras” em tradições brasileiras são o equivalente a mais de duzentas.

Também em discursos vale a regra. Quando alguém inicia o discurso, depois de passar cinco minutos cumprimentando os presentes e os componentes da “mesa”, dizendo “vou ser breve”, pode ter certeza que vai ser longo.

Tudo começa, como dito, com cumprimentos à mesa e aos presentes, da alegria por se estar presente àquele momento, da beleza que é a sociedade reunida em assembléia, fazendo jus aos heróis que tanto lutaram para que pudéssemos ter um país realmente democrático. Aliás, tudo depende do tipo de cerimônia. Para cada cerimônia, um certo tipo de abertura.

Depois vem o desenvolvimento e aqui é que se diz o “vou ser breve”, seguido de longas (e muitas vezes repetidas) palavras sobre aquele momento. E, aqui também tudo varia conforme a intenção: elogios, críticas, desenvolvimento de idéias. Ora mais inflamadas as palavras, ora menos, o tempo vai passando, passando, passando...

De repente o orador, com a platéia cansada, diz “para encerrar...” e todo mundo acredita que ele realmente vai terminar. Mas não termina. E fala, fala, fala.

Quando, enfim, vai encerrar o seu discurso, volta a agradecer aos presentes, aos membros da mesa e retoma todo aquele pré-discurso da abertura que dura novos cinco minutos.

A platéia, cansada, aplaude em pé não o orador e o seu discurso, mas sim o término daquela fala e aproveita para esticar as pernas.

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