quarta-feira, 25 de novembro de 2009

2012

Assisti 2012 e não gostei. Aquela receita de sempre: cinema catástrofe, o mundo vai acabar e a salvação da humanidade, é claro, passa pelos Estados Unidos.

Vale, no entanto, o debate sobre um dos temas do filme: culpa. Os Estados Unidos (é claro) descobrem uma saída para a catástrofe, mas que custa caro (financeiramente). Assim, somente quem pagou o preço estipulado teria a chance de sobreviver.

O problema começa quando pesa a consciência de alguns dos “salvos” e questionam do porquê de apenas alguns eleitos. Pesa uma certa culpa, talvez, por não ter havido uma ampla divulgação do problema e por não haver a possibilidade de todos os humanos buscarem se salvar.

O filme me fez lembrar de um exemplo inverso. Em “A Queda”, de Albert Camus, há um trecho onde se discute o possível sentimento de culpa de Jesus. Como disse, a situação é inversa: quando foi anunciada a vinda do messias, que libertaria os judeus, foi ordenada uma matança das crianças que nascessem (aconteceu coisa parecida com Moisés). Assim, José e Maria fugiram para que o filho pudesse nascer.

Jesus nasceu, mas talvez centenas de crianças tenham sido mortas, cortadas ao meio. Rebecas e Saras ficaram chorando os filhos que não puderam ser embalados, que não cresceram.

Sendo quem era, conforme diz a Bíblia, Jesus não deve ter conseguido passar a vida toda sem sentir-se culpado pelas mortes, sem ter tido pesadelos. Diz a Bíblia que ele morreu na cruz para nos salvar. Mas para que ele pudesse chegar até a cruz houve morte de crianças. Como conseguir viver sem pesadelos tendo na origem tanto sangue?

No filme, a busca pela manutenção da vida com a morte de outros, para alguns não atrapalhava o sono. Outros tinham nem dormiam.

A grande diferença entre as duas situações é que na ficção houve a decisão de alguns se salvarem, com prejuízo do resto do mundo. No exemplo bíblico os salvos não tinham escolhido viver.

A escolha da morte, ao final, coube ao autor de cada uma das histórias, já que ambos são oniscientes e sabiam como a tudo iria acabar.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Auto-ilusão

As paredes ficaram mais claras
na sua ausência
apago a luz.

E, pela manhã, lhe mantenho a cama
desfeita
perpetuando a impressão do recém-despertar.

(em 15/12/2006)