quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O Espírito do Natal

Movidos por um grande sentimento de fraternidade, pessoas de todo o nosso País encaminharam donativos para os desabrigados das enchentes de Santa Catarina. Segundo números da Revista Época (22 de dezembro) foram 26 milhões de Reais, 4.300 toneladas de alimento, 1.000 toneladas de roupas e 2,5 milhões de litros de água.

O povo brasileiro se comoveu com o triste destino das famílias que tudo perderam. A alguns só restaram a vida, a dignidade e poucos documentos. A campanha televisiva funcionou e os resultados bateram recordes de doações.

Se o povo, como entidade metafísica e despersonalizada, deu mostras de que é solidário, o povo, como integrantes da população, com nome, RG, CPF e endereço, mais uma vez nos causou vergonha de sermos da espécie humana.

Acostumado a delegar à classe política o monopólio das falcatruas e aos bandidos profissionais o da latronagem, pessoas do povo, com as características acima (CPF e RG), – inclusive que se apresentaram como voluntários e alguns fardados – saquearam as doações feitas aos desabrigados. Câmeras mostraram alguns “escolhendo” o que queriam levar pra casa. O que havia de melhor, é claro.

Há alguns dias do Natal, pessoas que se habilitaram como voluntários foram, enfim, buscar os presentes e a ceia em um “pegue-e-leve”, sem necessitar desembolsar. Sempre me foi dito que a ocasião faz o ladrão e para essas pessoas o ditado serve. Pior: se houve o ânimo de desencaminhar produtos que têm como destinatários quem tudo perdeu, na certeza da impunidade, certamente com a garantia do anonimato e de que não restariam problemas posteriores, os saqueadores bem poderiam preparar um butim mais substancioso. Talvez os cofres públicos, talvez bolsos privados.

Mas, enfim, é Natal. Os sinos dobram, as pessoas cantam, as lojas vendem (com ou sem crise) e há um protocolar desejo de felicidade e coisas boas para todos (até mesmo os saqueadores de Santa Catarina desejam o bem para todos – mas para eles em primeiro lugar).

É o espírito natalino que contagia. (Mas a virose do Natal tem sintomas diferentes em cada um.)

Feliz Natal e um 2009 sem enchentes e sem saques de donativos.