Lúcia McCartney
De Rubem Fonseca, tudo o que eu
me recordava de ter lido era “A Grande Arte”, e iria passar naquele dia um “caso
especial”, na Globo, sobre um seu conto chamado “Lúcia McCartney”. A Fernanda
(Torres) faria o papel da Lúcia (McCartney). O Taumaturgo (Ferreira) faria o
José Roberto. Até então, pouco me dizia tudo aquilo. Foi então que vi o
especial e fiquei encantado.
O modo como o diretor (Roberto
Talma) conduziu a trama me fez colar no sofá e não piscar nem por um segundo. O
drama emocional da moça, uma jovem prostituta que se apaixona por um cliente,
mais velho, misterioso, aparentemente solitário, vai nos ganhando a cada
instante. O modo como ele não se deixa envolver, mesmo envolvido. O modo como
ela se permite envolver, mesmo não querendo.
Muitos e muitos anos depois,
calhou de eu pegar pra ler um livro de contos do Rubem Fonseca. Obviamente, o
conto que dá nome ao livro é Lúcia McCartney. Revivi aquela noite de 1994, mas então
por escrito, sem uma adaptação, mas no texto original. Confesso que não
enxerguei nem a Fernanda nem o Taumaturgo nos personagens, mas continuei
envolvido na história pelo modo como o Rubem vai contando e narrando, pela voz
e pelo pensamento da Lúcia. Toda a expectativa, toda a dor, todo o desespero.
Acho que todo mundo já teve seus
momentos de Lúcia, apaixonando-se por alguém que não se permitiu ficar.
Escreveu diálogos mentalmente, que nunca aconteceram. Redigiu cartas que nunca
foram entregues. Sofreu, afinal. E todos tivemos momentos de José Roberto, com
sentimentos perdidos em um mundo confuso, mantendo-se solitário, e mesmo enxergando
uma grande paixão que se apresentava, preferiu ir-se. Não por covardia, não por
medo. Mas apenas por conta do fluxo da vida. Às vezes viver é apenas não poder
ficar, não poder sentir, não poder ser. Depois, resta pensar no que poderia ter
sido. Mas aí, já é tarde, já passou...
1 Comentários:
Parabéns! Interessante e muito bem escrito o texto... despertou interesse em ler a assistir "Lúcia McCartney".
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