Frederico
A grama tem cheiro de liberdade.
A dureza do concreto das calçadas e o calor do asfalto tem algo de repressivo. A umidade da noite presente na grama amanhecida,
ainda cedo, antes de o Sol forte, é a materialização da liberdade perdida na
impermeabilização de asfaltos e calçadas. E Frederico sabe disso muito bem.
O passeio matinal, cuja farra
consiste em se lembrar presente pelos odores do dia anterior, marcar sua
presença por onde passa e dar umas corridinhas de leve, só pra cansar um pouco,
é festejado com o refestelar pelo gramado, deitado de costas e sentindo cada
vértebra em contato. A grama úmida, a terra molhada, o frescor.
Normalmente Frederico levava
Nadir para passear nas calçadas, cuidando para que tudo transcorresse em
segurança. Nunca atravessava as ruas. Guiava Nadir pelo quarteirão, apenas. Mas
tudo é uma prisão e as calçadas eram só a continuação da vida engaiolada no
apartamento. A grama foi a redenção. Nadir acompanhou e gostou da novidade.
Desde então, Frederico conduz
Nadir com cuidado. Saem do apartamento, chegando à calçada seguem pela
esquerda, vão até o fim do quarteirão, atravessam a rua, caminham na calçada do
outro lado, mais um quarteirão pela direita, um pouco mais em frente e chega na
praça. Todos os dias, bem cedinho, antes do trabalho. Grama úmida, dia fresco,
liberdade à solta e Frederico com uma indisfarçável alegria que sempre emenda,
ao fim do passeio, com a certeza da volta no dia seguinte.
1 Comentários:
No embalo da leitura é possível imaginar a jubilosidade do cãozinho e a satisfação de sua dona.
Parabéns ao autor pela a arte de transpor os acontecimentos exatamente como eles são.
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