domingo, 28 de fevereiro de 2010

Dias de Chuva

A Maria acha que jazz é música para se ouvir em dias de chuva. Por certo, a imagem construída na mente dela é de um trompete soprando melancolicamente, enquanto a chuva bate contra a janela e a mente se esvai por pensamentos saudosos ou tristes, talvez regados com uma xícara de chocolate quente, ou de café ou mesmo alguma bebida.

O tempo escuro pelas nuvens, o dia cinzento, as pessoas presas em casa com a forte chuva, as capas de chuva de cores sóbrias. Que resta na chuva, além de ficar olhando pela janela, vendo a água que cai? O olhar perdido no tempo e no espaço acaba levando a mente a meditar sobre situações passadas, decisões que precisam ser tomadas. Um relâmpago clareia o céu, quase dá pra imaginar um rosto próximo da janela sendo iluminado pelo “flash”, e logo em seguida vem o estrondo do trovão. E tudo volta a ser apenas a água que cai. A trilha sonora para momento pede tons menores. Aí entra o trompete soprando isolado e sem alegria.

Essa atmosfera de tristeza foi muito explorada pelo cinema. Chuva, melancolia, bebidas, cigarros, um trompete (ou um piano) triste, solidão. Separações, notícias tristes, funerais, nada disso teria o mesmo apelo visual sem a chuva, sem uma trilha sonora em tons menores (e o jazz serviu muito para este fim), sem um copo (ou uma garrafa) de algo forte e quente.

Enfim, acho que a Maria tem mesmo a razão.