A Juventude dos Partidos
Pouco mais de quarenta anos passados do texto, e muitos mais do “antigamente” a que se refere, a juventude está mais que nunca na moda. Ninguém parece querer aceitar o tempo que passa (ou que o que o tempo passa). Existe um frisson pela juventude. Em uma época onde a tecnologia imprimiu um novo ritmo ao tempo e a medicina quase descobriu o “elixir da longa vida”, o que se vê é uma maturidade com aparência jovem e um profundo desrespeito pela juventude.
Todos querem parecer jovens, mas ninguém o que ser, de fato. O jovem ainda vive sob o estigma da irresponsabilidade, do descompromisso, da rebeldia.
Tudo fica ainda pior quando representantes de setores governamentais, que deveriam ter discursos pró-juventude, visando explorar o potencial e gerar oportunidades, fazem pronunciamentos desprezando quem tem pouca idade.
Um ambiente de formação, por excelência, para o jovem-cidadão são os partidos políticos e seu segmento jovem. A participação das discussões e do processo decisório de programas de governo/sociais, marcando posição e contribuindo para a formatação da sociedade é uma das formas mais significativas de formação adultos conscientes e de afastar o jovem da delinqüência.
No entanto, há algum tempo, o prefeito de uma cidade de Mato Grosso, em pronunciamento, disse que “as juventudes dos partidos só servem para animar comícios”. Mais de que deselegante, foi desastroso o pronunciamento.
O chefe do Poder Executivo, líder, por certo, do partido dentro do município, referência maior da população, relega a juventude o papel de micos de auditório. Inaceitável. Absurdo. Lamentável.
A coordenação dos trabalhos da juventude deve caber a pessoas com mais experiência e, se por ventura os trabalhos não vêm acontecendo a contento, cabe um mea culpa e a busca por soluções, não uma crítica deslavada contra quem necessita de exemplos para seguir.
Ainda que não me sinta mais integrante da juventude (as cãs aparentes, as entradas e a data de nascimento me afastam cada vez mais desta fase da vida), acredito nela. A força, a vitalidade e a energia dos jovens têm o condão transformador. A realidade social, sempre dizia o professor Carlão (que tanta falta faz à academia, à construção do direito e aos bares), não nasce em árvores, pendentes como frutos. A realidade social é construída a cada dia.
Acredito que a construção de um mundo melhor passa, inevitavelmente, pela melhor formação do jovem, pela abertura ao debate, pela conscientização do poder reformador e reformulador que têm a juventude.
Com relação àquele prefeito a quem me referi (e que deve ter nascido com 50 anos, como na crônica rodrigueana), o seu pronunciamento não foi de todo inútil. Ao menos serve de mau exemplo.