quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A Juventude dos Partidos

(encaminhado para publicação na mídia impressa)
Quando era cronista do jornal “O Globo”, no ano de 1967, Nelson Rodrigues disse que antigamente ninguém queria ser jovem. Segundo ele, no começo do século passado as pessoas já nasciam com mais de 50 anos. De fato, os jovens, assim que podiam, deixavam crescer o ou o bigode, ou o cavanhaque, ou a barba, para que tivessem aspecto de mais idade.

Pouco mais de quarenta anos passados do texto, e muitos mais do “antigamente” a que se refere, a juventude está mais que nunca na moda. Ninguém parece querer aceitar o tempo que passa (ou que o que o tempo passa). Existe um frisson pela juventude. Em uma época onde a tecnologia imprimiu um novo ritmo ao tempo e a medicina quase descobriu o “elixir da longa vida”, o que se vê é uma maturidade com aparência jovem e um profundo desrespeito pela juventude.

Todos querem parecer jovens, mas ninguém o que ser, de fato. O jovem ainda vive sob o estigma da irresponsabilidade, do descompromisso, da rebeldia.

Tudo fica ainda pior quando representantes de setores governamentais, que deveriam ter discursos pró-juventude, visando explorar o potencial e gerar oportunidades, fazem pronunciamentos desprezando quem tem pouca idade.

Um ambiente de formação, por excelência, para o jovem-cidadão são os partidos políticos e seu segmento jovem. A participação das discussões e do processo decisório de programas de governo/sociais, marcando posição e contribuindo para a formatação da sociedade é uma das formas mais significativas de formação adultos conscientes e de afastar o jovem da delinqüência.

No entanto, há algum tempo, o prefeito de uma cidade de Mato Grosso, em pronunciamento, disse que “as juventudes dos partidos só servem para animar comícios”. Mais de que deselegante, foi desastroso o pronunciamento.

O chefe do Poder Executivo, líder, por certo, do partido dentro do município, referência maior da população, relega a juventude o papel de micos de auditório. Inaceitável. Absurdo. Lamentável.

A coordenação dos trabalhos da juventude deve caber a pessoas com mais experiência e, se por ventura os trabalhos não vêm acontecendo a contento, cabe um mea culpa e a busca por soluções, não uma crítica deslavada contra quem necessita de exemplos para seguir.

Ainda que não me sinta mais integrante da juventude (as cãs aparentes, as entradas e a data de nascimento me afastam cada vez mais desta fase da vida), acredito nela. A força, a vitalidade e a energia dos jovens têm o condão transformador. A realidade social, sempre dizia o professor Carlão (que tanta falta faz à academia, à construção do direito e aos bares), não nasce em árvores, pendentes como frutos. A realidade social é construída a cada dia.

Acredito que a construção de um mundo melhor passa, inevitavelmente, pela melhor formação do jovem, pela abertura ao debate, pela conscientização do poder reformador e reformulador que têm a juventude.

Com relação àquele prefeito a quem me referi (e que deve ter nascido com 50 anos, como na crônica rodrigueana), o seu pronunciamento não foi de todo inútil. Ao menos serve de mau exemplo.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O gigante Davi

Alguém disse que "nunca se mente tanto quanto antes de uma guerra, durante as eleições e depois de uma pescaria". Se no que diz respeito à pescaria a frase ainda vale, a política e a guerra (muitas vezes de mãos dadas) fazem o ditado merecer uma revisão.
O que temos visto é que, para se ganhar uma eleição, vale quase tudo. Melhor, vale tudo. Inclusive fazer a guerra.
Os Estados Unidos tem (escrever isso sem acento ainda me causa desconforto) uma vasta lista de ações de guerra para justificar a vida política do país. Se á política vai mal, promovem a guerra para estimular o sentimento de americanismo do povo. Eleição praticamente garantida.
O problema surge quando mesmo a população se irrita com as medidas. A guerra no golfo estrapolou todos os limites e mesmo a população agora se insurge contra o "republicanismo". Apenas para ilustrar, uma organização está preparando um pedido de prisão ao Mr. Bush por "crimes contra a humanidade". O pedido será apresentado em faixas durante a cerimônia de posse do candidato eleito. Aliás, a atuação do Obama, em quem o mundo depositou suas esperanças, tem sido muito tímida no que diz respeito à questão atual na faixa de Gaza.
Aliás, Gaza é mais um exemplo da guerra para viabilizar eleições. Semanas antes das eleições, Israel resolveu promover revidar com um poderio bélico estupendo o ataque dos traques e rojões do Hamas. O genocídio praticado por Israel contra os Palestinos é evidente. Uma simples olhada no necrotério mostra a diferença. Enquanto meia dúzia de judeus foram morar no cemitério, quase mil palestinos foram ter as contas com Alá (aliás, Israel não poupou nem os mortos e bombardeou até cemitério).

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Bêbado Solidário

Nada mais comovente que o bêbado solidário. Há quem, depois de encharcar a caveira de cachaça, torna-se o mais solícito dos seres, sobretudo em datas festivas, sobretudo no reveillon (por que não se aportuguesa essa palavra?).

Aliás, neste reveillon (continuo achando que deveria ser reveiôn), algo por volta da uma da manhã, passada a euforia dos fogos, das explosões de champagne (por que não se fala chamapanhe – ou apenas espumante?) e após os efusivos e cumprimentos e desejos de prosperidade, estava eu, afastado da multidão, quando um desconhecido, completamente bêbado, pra lá de Bagdá uns quarenta coqueiros, guinchado pela esposa (suponho que fosse), de repente pára em minha frente, me olha como se eu fosse um antigo conhecido, abre os braços e grita pra mim um “feliz 2009”, seguido de um abraço como o que se dá em grandes amigos, seguido de votos diversos.

A comovente cena não durou mais que uns segundos mas mostrou o espírito que nos guia, sobretudo na embriaguez, nessas datas festivas. A despeito da praxe do momento, a despeito do protocolo, existe um real sentimento – potencializado pelos vapores do álcool – de que seja realmente um ano bom. Como se dizia em Roma, in vino veritas. Também deve ser em tudo o que amorteça o superego.

Enfim, que os desejos embriagados do bêbado solidário sejam para todos nós. Inclusive para os saqueadores do texto anterior.