domingo, 27 de março de 2011

Da existência como reconhecimento e dos outros como reflexos de nós mesmos

Afinal, o que nos move a vida? O que faz com que a existência se justifique?

Para alguns a existência se justifica como um plano divino superior e que um dia haverá uma ida ao paraíso, uma existência eterna nos Campos Elíseos. Francamente, a resposta é simplista demais. Não é esse o ponto. Sentir-se parte de um plano superior, poder sentir-se parte de algo maior pode ser reconfortante para quem assim prefere, mas o que pretendo aqui é mais terreno.

O que nos motiva acordar e existir, diariamente, cotidianamente? A necessidade material faz com que trabalhemos e busquemos, com o que lucramos, saciar necessidades físicas. Será isso? O que nos move a vida é a mera necessidade fisiológica?

Se assim for, porque se justificaria o excesso e o querer mais? Não existe um sentimento de sentir-se reconhecido pelo que se faz? Segundo Maslow, no topo da pirâmide só tem espaço para afagos e confete. Então é isso? Buscamos, ao final, reconhecimento e tudo se resume nisto?

O tempo e o destino me proporcionaram, muito recentemente, uma dádiva: um reencontro, 18 anos depois, com alguém que eu nunca conheci. Não tentem entender, que eu prometo não tentar explicar. Para mim foi uma situação muito interessante. Não bastasse a companhia agradabilíssima e uma conversa estimulante (é sempre bom poder conversar com pessoas inteligentes), ainda me trouxe uma parte do meu passado que estava perdida em algum recanto do meu cérebro e que, não fosse pelo acaso da conversa, eu jamais teria voltado àquilo tudo. Nostalgia? Imagino que não. Não se ficou lembrando com saudade do passado, ainda porque ele não houve de modo comum. Enfim, esse não é o ponto.

O ponto é, mesmo sendo ela uma mulher linda, bem nascida, viajada, casada, bem sucedida, o seu maior orgulho, são os filhos. A ela, pouco importa todo o resto. Importam os filhos. Todo o resto é o mecanismo para que a constituição familiar esteja bem cumprida, sem as corrupções modernas de famílias dissolvidas. Uma espécie de tradicionalismo atualizado. Também não vou tentar explicar isso aqui, mas tomem como sendo um elogio ao modo como ela pensa a família.

Acabei me vendo, em parte, refletido em muito do que houve na conversa e me motivou a pensar por escrito. Pensando no que nos motiva a existência, pensando no que nos faz sermos como somos. Por mais que buscasse explicação, acabei sempre voltando a Maslow. Seja como for, o que nos conforta, depois que as necessidades fisiológicas e profissionais estão completas, é a auto-realização. E, mais uma vez, mesmo não sendo religioso, tenho que lembrar Eclesiastes e dizer que tudo é vaidade.

E a vaidade pode ser boa, contanto que seja dosada. Ser boa mãe e poder se ver reconhecida na conduta e no futuro dos filhos, ser bom escritor e poder se reconhecido pela grandiosidade da obra, ser bom naquilo que se desejar para que se possa sentir orgulho (não na conotação pejorativa do termo) do produto de seus esforços.

Talvez seja isso que nos move: reconhecimento (ainda que apenas de si mesmo). A máxima nietzschiana de “torna-te quem tu és” talvez consista em que a busca pelo reconhecimento é uma forma de tentarmos nos encontrar e nos tornar aquilo que somos, mas visto pelos olhos dos outros. O problema é que cada um nos olha por perspectivas diferentes e a maioria nunca nos enxerga de fato, só veem em nós o reflexo de si mesmos. Existir é ser visto pelos outros.

Lila (se me permite a intimidade do apelido), obrigado pela reflexão que me proporcionou.