quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Melhores Amigos

Todos temos uma lista de melhores amigos que muda ao longo dos anos. Ninguém é obrigado a ser amigo e nem tampouco se manter na categoria de “melhor” para sempre. Quando somos crianças, temos nossos melhores amigos, que nos tempos de antigamente eram aqueles com quem íamos jogar bolinha de gude, jogar futebol na rua, roubar frutas no quintal de algum vizinho. Na adolescência os melhores amigos compartilham as crises da idade. E assim continua.

Como a amizade não é datada, assim como ninguém é obrigado a permanecer amigo, também ninguém é obrigado a deixar de sê-lo. E, assim, alguns continuam amigos - e continuam sendo melhores - ao longo dos anos, ao longo da vida.

Um dos que permanece há anos está na minha lista de melhores, tornou-se amigo de uma forma inusitada, durante um festival de teatro, convidando-me a participar de uma peça. Desde então, mesmo passando períodos sem nos falar, nunca perdemos a amizade. Dentre nossos interesses em comum, está a literatura. Naquela época eu tentava escrever, acreditava que poderia ser poeta. Ele também.

Éramos leitores um do outro. Criticávamos (na melhor acepção do termo) um o que o outro escrevia e assim buscávamos nos aperfeiçoar e íamos nos incentivando.

Certa vez ele me apresentou um livro do Rilke (cartas a um jovem poeta), onde, logo no inícioo autor dizia ao jovem que seria escritor caso sentisse, de fato, necessidade de escrever. Se as letras fossem, de fato, um combustível para ele. Pensei e repensei e descobri que não sou escritor. Apesar de gostar do texto, apesar de gostar da palavra, a leitura do Rilke me fez sentir que é necessário mais que vontade para escrever, para ser poeta, para ser cronista.

Por outro lado, esse meu amigo, com o talento e vontade que tem, continuou. Aprimorou-se. Publicou. Foi reconhecido, indicado a melhor livro do ano (como já escrevi em um post antigo). Traduziu. Foi traduzido. Foi convidado a participar de um evento no México. Agora, o Paulo Ferraz irá para uma leitura em Barcelona.

Rilke nos mostrou o que precisávamos ver. Eu não me tornei escritor. O Paulo já era desde aquela época.