domingo, 3 de agosto de 2014

Tratado sobre nada

Sempre fui um pensador. Não um pensador no sentido de alguém que se propõe a formalizar um sistema de entendimento do mundo, ou quem se propõe a fazer tratados sobre temas. Mas apenas pensar, formar grandes considerações absurdas sobre coisas sem importância, ou considerações sem importância sobre coisas absurdas, ou até mesmo promover entendimentos contraditórios sobre o cotidiano e sobre tudo aquilo que eu conheço pouco, mas que todos falam muito.
Refleti um sem pares de vezes sobre a condição humana, e sempre cheguei às conclusões repetidas de que nada vale à pena (independente do tamanho da alma, Pessoa). Mas então, o que fazer nesse mundo onde não se vale à pena estar, mas onde viemos parar sem convite e sem aviso? Se há algo onde reside algum sentido – e, ainda assim talvez – são as letras. Nas letras é possível reescrever o mundo de forma que o contexto tenha algum significado e onde é possível desdenhar do que tradicionalmente se usou chamar de real e redefinir o azul como sendo verde, amanhecer pela noite e nunca enterrar as cinzas no carnaval.
A existência é absurda demais para ser levada a sério. E, pior, tenho levado sempre tudo a sério em excesso. Nunca aprendi de outro jeito e fui enganado em minha formação sobre a seriedade das coisas e das pessoas e dos fatos. Pregaram-me uma peça e nunca soube como me desvencilhar disso. E desde sempre estou formulando conceitos mágicos de situações hipotéticas de um mundo de fantasia que aprendi a conhecer, mas onde as pessoas não moram.
A vida é outra coisa, o mundo é outra coisa, a existência é outra coisa. Por isso volto-me às letras. Por isso mantenho-me fazendo conjecturas de tudo que há, sem que nada seja relevante.
Assim, calculo as vagas das ondas, tentando prever a arrebentação. Por isso concentro no tempo verbal colocado de forma não usual, mas que fica esteticamente mais simpático em uma frase e reflito sobre onde colocar uma vírgula. E também mantenho o verso sem ritmo, sem rima e sem sentido, para me divertir imaginando como alguém irá fazer a análise, encontrando motivos onde não houve e encontrando sentido onde não tem.
E escrevo por escrever, para aliviar a alma, para amenizar a angústia. E escrevo pouco, porque o que penso não tem forma e se esvai com o vento. Longos debates tratados comigo mesmo ficam apenas no campo do imaginário, cheio de contrapontos onde eu me refuto e me mostro irrefutável. Sempre fui meu mais ácido crítico.
Mas do pouco que resta escrito, algo encontra publicação virtual. Sem papel, sem edição e (talvez) sem quem leia. E a internet nos recebe, eu e aquilo que me ocorre. Assim, vou me confessando, me inventando, reinventando e tentando encontrar um fim para a minha história, que não chegou ao fim e que mais busco entender que redigir, sendo um eterno refém de meus pensamentos, formulando considerações absurdas. Mas é tudo sem importância.

1 Comentários:

Blogger awww disse...

As vezes a gente lê um texto e pensa: "tirou as palavras da minha boca". Esse é o caso.

23 de dezembro de 2015 às 13:25  

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