Tratado sobre nada
Sempre fui um pensador. Não um
pensador no sentido de alguém que se propõe a formalizar um sistema de
entendimento do mundo, ou quem se propõe a fazer tratados sobre temas. Mas
apenas pensar, formar grandes considerações absurdas sobre coisas sem
importância, ou considerações sem importância sobre coisas absurdas, ou até
mesmo promover entendimentos contraditórios sobre o cotidiano e sobre tudo
aquilo que eu conheço pouco, mas que todos falam muito.
Refleti um sem pares de vezes
sobre a condição humana, e sempre cheguei às conclusões repetidas de que nada
vale à pena (independente do tamanho da alma, Pessoa). Mas então, o que fazer
nesse mundo onde não se vale à pena estar, mas onde viemos parar sem convite e
sem aviso? Se há algo onde reside algum sentido – e, ainda assim talvez – são as
letras. Nas letras é possível reescrever o mundo de forma que o contexto tenha algum
significado e onde é possível desdenhar do que tradicionalmente se usou chamar
de real e redefinir o azul como sendo verde, amanhecer pela noite e nunca
enterrar as cinzas no carnaval.
A existência é absurda demais
para ser levada a sério. E, pior, tenho levado sempre tudo a sério em excesso.
Nunca aprendi de outro jeito e fui enganado em minha formação sobre a seriedade
das coisas e das pessoas e dos fatos. Pregaram-me uma peça e nunca soube como
me desvencilhar disso. E desde sempre estou formulando conceitos mágicos de
situações hipotéticas de um mundo de fantasia que aprendi a conhecer, mas onde
as pessoas não moram.
A vida é outra coisa, o mundo é
outra coisa, a existência é outra coisa. Por isso volto-me às letras. Por isso
mantenho-me fazendo conjecturas de tudo que há, sem que nada seja relevante.
Assim, calculo as vagas das
ondas, tentando prever a arrebentação. Por isso concentro no tempo verbal
colocado de forma não usual, mas que fica esteticamente mais simpático em uma
frase e reflito sobre onde colocar uma vírgula. E também mantenho o verso sem
ritmo, sem rima e sem sentido, para me divertir imaginando como alguém irá
fazer a análise, encontrando motivos onde não houve e encontrando sentido onde
não tem.
E escrevo por escrever, para
aliviar a alma, para amenizar a angústia. E escrevo pouco, porque o que penso
não tem forma e se esvai com o vento. Longos debates tratados comigo mesmo
ficam apenas no campo do imaginário, cheio de contrapontos onde eu me refuto e
me mostro irrefutável. Sempre fui meu mais ácido crítico.
Mas do pouco que resta escrito, algo
encontra publicação virtual. Sem papel, sem edição e (talvez) sem quem leia. E
a internet nos recebe, eu e aquilo que me ocorre. Assim, vou me confessando, me
inventando, reinventando e tentando encontrar um fim para a minha história, que
não chegou ao fim e que mais busco entender que redigir, sendo um eterno refém
de meus pensamentos, formulando considerações absurdas. Mas é tudo sem
importância.
1 Comentários:
As vezes a gente lê um texto e pensa: "tirou as palavras da minha boca". Esse é o caso.
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