quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Do andar feminino

Que o Guto fique feliz: todas as mulheres coxeiam. No andar feminino, com vagar ou com pressa, existe um coxear que dá charme e beleza. Um rebolado com as coxas se comunicando e com os quadris ora mais pra lá, ora mais pra cá.

Seja qual for o motivo do coxeio, talvez a bolsa, talvez o salto, talvez só charme, tanto faz, torna o andar feminino alegre. Esse vai-e-vem é o contraponto do andar reto, militarizado, seco e sem graça dos homens.

Se houve um tempo que o coxeio causou angústia, como foi no machadiano Brás Cubas que se lamentava da condição da Eugênia (“menina bela embora coxa”), hoje há quem o celebre. Assim como o Guto, o Mário Rui Feliciani, em seu “Dobras” (Selo Sebastião Grifo, 2007), comemora essa peculiaridade feminina.

No conto intitulado “37” o Mário Rui faz uma magistral análise do rebolar desaprumado e fora do eixo da morena no samba, cuidando de ir mais pra um lado que para o outro, com mais vagar ou com mais pressa, tudo dependendo do tamanho da bunda que circunda o imaginário centro.

Seja mais pesadamente, para as avantajadas, seja mais espevitadamente, para as mignon, a bunda tem uma função de crucial importância para a beleza do coxeio.

Existe a necessidade do não-simetrismo para que o andar não seja robótico. É a imperfeição que humaniza, que dá beleza ao andar e que o faz agradar a quem olha. Sorte termos pessoas como o Guto e como o Mário Rui (aliás, muito obrigado pelo livro, Mário!), que nos fazem enxergar a beleza nesses pequenos (e quase desapercebidos) detalhes do universo feminino.