quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Fernandinho não morre mais!

Houve um tempo que eu mantinha a inocência de acreditar que as Academias de Letras eram compostas por pessoas de letras. Eu acreditava que as Academias de Letras eram uma espécie de Olimpo, onde pessoas que tinham dedicado a vida para publicar obras que se tornariam referência na literatura e no estudo da língua se confraternizavam e trocavam experiências.

Via em Machado de Assis e Guimarães Rosa modelos a serem seguidos para que se ingressasse naquele seletíssimo clube. Acreditava que os integrantes da ABL eram “imortais” por suas obras serem eternas, por isso seria impossível que fossem mortos. Depois que deixassem essa vida, a obra deles permaneceria para sempre. Eu me recordava de, em uma discussão sobre o fim dos chamados “acentos” das palavras, uma professora dizer que a Academia Brasileira de Letras não deixaria que isso acontecesse.

Enfim, acreditei que as Academias de Letras eram o coroamento dos grandes escritores e filólogos.

Ledo engano.

Fazendo uma análise da composição da Academia Brasileira de Letras, encontramos ilustres desconhecidos que não nos parecem ter prestado grandes serviços à língua portuguesa. Um excedente de imortais com livros eminentemente técnicos, jurídicos, políticos, religiosos, médicos (no caso do imortal do bisturi, quase tudo em inglês), ainda há um imortal sem obra: Getúlio Vargas, cuja bibliografia consta apenas “A Nova Política do Brasil (discursos reunidos)”.

Além de fazer discurso ser função de assessor, resta uma pergunta: E aquela história de ser imortal por conta da obra, onde fica?

Talvez haja uma janela lateral, por onde entram pessoas que querem viver para sempre e não tiveram capacidade para fazê-lo por méritos literários.

Por outro lado, há quem tenha os méritos e nunca tenha ganho o status de eterno. Drummond, Sabino e outros grandes, não foram pra lá.

Enquanto isso, lá em Alagoas, sem nunca ter publicado nada – assim como Getúlio –, Fernandinho não morre mais.