sábado, 20 de junho de 2009

De "fair play" a caneleiro*

Afinal, o que foi comemorado com o anúncio de nossa cidade como sub-sede da Copa, a vitória de Cuiabá ou a derrota de Campo Grande? No domingo do anúncio, o que se viu foram mais discursos contra a capital vizinha que em prol da nossa. Foi afixada e muito divulgada uma faixa desnecessariamente agressiva, que mandava que Campo Grande “chupasse a manga”. Um jornal local estampou como manchete a derrota da outra cidade, não a vitória da nossa.

O discurso de algumas autoridades de nosso Estado, seguindo a onda daquele momento, cuidou mais de atacar o modo como a outra cidade fez a campanha do que de elogiar a cidade vitoriosa. A população transformou o momento em uma catarse coletiva e espumou de alegria com as palavras que criticavam Campo Grande. Cuiabá, que se orgulhava de ter mantido uma postura fair play durante o jogo, assim que escutou o apito final partiu para a grosseria e para a truculência.

Alguém me disse, inclusive, que eles não sabiam perder. Pior que não saber perder, é não saber ganhar. Para quem já tinha o anúncio da vinda da Copa, não mais cabiam palavras contra o outro Estado, era aquele o momento da reconciliação. O “jogo” tinha acabado e era uma excelente hora de estender a bandeira branca e convidar os moradores de Mato Grosso do Sul para que viessem assistir a Copa no Verdão. Parabenizar pelo esforço. Ser magnânimo. Jamais poderia ter havido um sentimento de malhação do Judas.

Agora está circulando pela internet um e-mail supostamente escrito por um comunicador residente em Campo Grande e que sempre vem à nossa cidade, que conta de forma simpática que lhe doeu um pouco no orgulho e sobrou alguma inveja (saudável) a vinda da Copa para Cuiabá. As pessoas tem replicado o e-mail sentindo-se – pelos textos que precedem o artigo – maiores e mais importantes, afinal, a dor de cotovelo foi do campo-grandense.

Ledo engano. Apesar de haver, no e-mail, uma certa aura de que a escolha já estava anunciada (afinal, até o taxista já sabia de tudo, o que pressupõe alguma marmelada) espalhada pelo texto, o autor foi felicíssimo em mostrar, ele sim, uma postura elegante. Admite a perda, parabeniza pela vitória, critica os políticos grosseiros e a gente daquele município, que não souberam ser humildes durante a disputa.

A grande lição que o Guto Dobes – o autor do texto da internet – nos passa é a da integração, do verdadeiro espírito que deveria haver entre as duas cidades. Já não cabe mais a rixa entre as cidades, sobretudo a motivada por questões bairristas e ignóbeis. Cuiabá é terra de mojica de pintado, de doce de caju e de hospitalidade. Hostilidade não é hábito nosso.

Que o texto, que circula pelas listas de e-mail e publicado em páginas diversas da internet, seja lido não com a arrogância típica dos pobres de espírito, mas com a grandeza dos nobres, que superam as mesquinharias e que pensam grandiosamente. E que nossos representantes se desculpem pela deselegância ocorrida na euforia da comemoração, que deixem Cuiabá bela para que possamos receber a Copa, os turistas estrangeiros e os nacionais, sobretudo os de Campo Grande, que até outro dia fazia parte do grande Estado de Mato Grosso.

*publicado na mídia impressa e em sites de notícias

1 Comentários:

Blogger A. M. W. disse...

gostei dos textos, viu.
agora convido vc a ver o meu blog. bjo

27 de junho de 2009 às 23:52  

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